1.2.06

Como vai ser?


Como vai ser nos dias em que não me queiras ver, não me queiras sentir, ouvir, tocar. Não me queiras deixar aproximar. Não me queiras por perto, agora, subitamente para sempre. Como vai ser na fraqueza e na desilusão? Quando poderei contar que dês um pontapé no balde e invoques a razão pura, para tua cobarde e intransmisível justificação? Quanto tempo duraria um segredo e quanto tempo duraria uma vergonha que conheceu tão íntimos segredos? Como se lobotomiza a emoção se ela se deu a conhecer ou, se não é amor, como se detecta a infecção? Nos dias de luta, alguns de luto, nos dias de sempre, nas noites cansadas de por isto e por aquilo. Como vai ser? Nas luas, nas fases... Nos dias em que reconheças o monstro, em que te revejas na vítima... No teu aniversário, na nossa riqueza sombria, à saída do cinema, consolados num equívoco... No dia em que tiveres certeza de que tens certezas, não me queiras. Nesse dia de mórbida auto-consolação, nesse dia de pequenas infâmias, pequenas patetices, pequenas pegadas desde o porão, não me queiras para te ouvir. Como vai ser? Envias um ofício com aviso de recepção?
Diz-me como será no dia em que não me vais querer, para que te diga já que não te quero. Nem a ti, nem a ninguém.

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