15.8.06

Filhos da Pública


Nunca a noção de informação requentada esteve tão apurada. A Pública de domingo passado presenteia-nos com dois artigos por demais ansiados: um perfil impávido e quase elogioso de Ann Coulter e uma retrospectiva da carreira de José Cid, figurinha estampada, de resto, na capa da revista. Sobre Ann Coulter já se falou aqui e esta será a última vez, aliás porque a sua condição de sketch humorístico faz prever que a qualquer momento lhe caia sobre a resiliente cornadura um peso de (pelo menos) 500 Kg. Nota ao editor da Pública: mais sexy do que Coulter só um artigo sobre o impacto da aerofagia bovina no efeito de estufa. Desculpem lá, mas para além de as alarvidades inanes desta gaja não terem a menor relevância política, a própria gravidade já se encarregou de fazer ao seu conservadorismo siliconizado o que muitos liberais gostariam de lhe ter feito (e não no sentido bíblico). Por mais abordagens que nos tenham sido dadas deste fenómeno de hype fora do prazo, eu continuo a ver Linda Blair, 30 anos depois de “O Exorcista”, repossuída por um animadíssimo condomínio de demónios, com o crucifixo entalado e a vomitar verde por todo o lado. Não é uma visão agradável. O mesmo se poderá dizer de José Cid. Ele próprio terá sido exorcizado para libertar o talento oculto que o possuía, mas a única coisa que conseguiu foi posar nu com um disco de ouro. Felizmente para o Zé este país está recheado de atrasados mentais promotores de mediocridade que, quando não estão ocupados a urinar sentenças sobre defecações artísticas ou a cozer a bebedeira da noite anterior, se encarregam de ressuscitar os freaks do nacional cançonetismo, como se não estivéssemos com as coronárias suficientemente entupidas de merda e de imobilismo. Enfim. O que há para dizer sobre José Cid? Por mais que galvanize a imaginação, não consigo engendrar nada (problema que não parece ocorrer a estes foliões). Imagino que depois do reaparecimento de Vítor Espadinha tudo seja possível. O impulso erótico latente na obra de José Malhoa (um bocadinho mais de arrojo e metia-se a filha Ana ao barulho)? O rasgo etnológico e o subtexto político no trabalho de Carlos Cunha com Marina Mota? Tudo o que fermente e faça felizes os senhores das opiniões. Badaró, é uma lástima já nos teres deixado. Assistirias, seguramente, à tua época de glória.

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