13.7.09

Arejar



Uma cama revolta, para ninguém se deitar e descansar. Desfizemo-la milhares de vezes, tantas vezes que nunca a conhecemos serena. A cama era uma boa ideia, um ideal, talvez, mas nunca foi levada a sério. Raramente conheceu lençóis novos e nunca nos mereceu uma coberta aprimorada. Estava sempre desfeita, caramba, cara desgrenhada, inquieta, impreparada. Tinha uma capa rude e interesseira, para fazer de conta que se dispunha. Mas por baixo estava sempre na mesma antecipação tumultuosa, tão enérgica quanto estéril. Foi uma cama engraçada, a nossa, enquanto nos privámos de noites e conquistámos os dias. Mas tudo muda de figura quando paramos para repousar, e a cama que fizemos está partida pelo peso da espera, consumida pelo vazio das intenções, sem função, sem apego, sem remédio. A cama era a nossa, mas nunca a partilhámos.

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