28.8.09

Mala sangre



De acordo com o site do Instituto Português do Sangue, pode dar sangue quem “tiver bom estado de saúde, hábitos de vida saudáveis, peso igual ou superior a 50kg e idade compreendida entre os 18 e os 65 anos”. Com a medida do Ministério da Saúde, que exclui os homossexuais masculinos da dádiva, torna-se óbvio que um homossexual adulto é, por definição, um tresloucado irresponsável que pina como quem come rodízio, expõe-se ao HIV com alegre inconsciência e vai dar sangue para passar o tempo. De acordo com o protozoário de água salobra que está à frente do Instituto Português do Sangue e que é, ele sim, uma infecção generalizada, “Se a pessoa estiver anémica, a tomar medicamentos ou se for heterossexual e tiver tido um novo parceiro nos últimos seis meses, também não vamos aceitar esse sangue. O problema é que o heterossexual aceita e o homossexual não aceita. Diz que é discriminado”. O que este invertebrado não compreende é que com semelhante raciocínio, se é que tal designação se aplica, está, simultaneamente, a estigmatizar um vasto grupo de pessoas distintas, que retrata como crianças caprichosas, e a revelar a fragilidade dos métodos de rastreio do IPS. Não se minimiza o risco excluindo grupos, mas sim indivíduos, de acordo com o seu comportamento de risco, sejam eles homossexuais ou heterossexuais. A dádiva de sangue, como o nome indica, é uma manifestação individual de solidariedade que decorre da consciência cívica e de um grau elevado de responsabilidade e responsabilização sociais. Se é certo que não são critérios suficientes para erradicar problemas, são motivos mais que evidentes para evitar semelhante declaração institucional. O MS, no seu acéfalo desígnio, elege os seus dadores com a pesporrência de quem escolhe serviçais. Reze o senhor director para que nunca precise, pois quem sabe não lhe viesse a correr nas veias o sangue de uma maricona amiga e asseadinha, de seu nome Janete Samanta, dançarino de cancan numa chafarica do Cais de Sodré.

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