9.4.10

Muita erva, pouca uva


Ontem fui ver ao King "As Ervas Daninhas" (Les Herbes Folles), de Alain Resnais. E achei-o uma grande salganhada. É uma espécie de desconstrução irónica do drama passional "à americana", com influências do teatro do absurdo (o filme é ele próprio, muitas vezes, excessivamente teatral, mas isso já é uma marca do realizador). Pelo menos foi assim que o interpretei. Só que o que poderia ter sido uma farsa insólita resultou num confuso exercício de estilo, cheio de abstracções tão musicais quanto inúteis. Como se, aos 87 anos, Resnais sentisse necessidade de afirmar a sua iconoclastia e vitalidade criativa, mas, no processo, perdesse o controlo sobre o produto final. Os protagonistas anti-heróis com o pezinho no geriátrico poderão ser uma auto-referência (até porque Sabine Azéma, a actriz principal, é mulher do realizador), mas distanciam ainda mais o espectador. Formalmente desafiante, mas com um conteúdo improvável, "As Ervas Daninhas" merece alguma atenção mas parece não ser mais do que uma piada exagerada e demasiado longa. O tipo de filme que o Ípsilon adora.

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