4.1.11

Zero por centos


Mais um árduo dia de trabalho na Assembleia da República (simulação perfeitamente plausível):

- Senhor deputado, tenho de resto a apontar que o PIB em Portugal aumentou 13,6%, traduzido em 19.698 milhões de euros, o que revela uma notável capacidade de produção, mitigada apenas por um contexto internacional de estagnação com consequências graves na nossa economia!

(...)

- O que o senhor deputado não diz é que entre 2004 e 2009 a dívida externa líquida cresceu 78,6%, para 72.484 milhões de euros, ou seja, 3,7% mais, passando de 64% do PIB para 108,6% do PIB em 2010, senhor deputado!

(...)

- O que a oposição se recusa a reconhecer é que a generalidade da dívida externa foi contraída para investimentos e corresponde a activos determinantes para gerar riqueza e bem-estar dos cidadãos ao nível da saúde, educação, segurança, mobilidade, etc. Deduzindo os activos financeiros, tal como refere o Banco de Portugal no seu Boletim de Setembro de 2009, no quadro A.3.2, a Dívida Externa Líquida é de 134.327 mil milhões, e não os 182.833 mil milhões de euros que o senhor deputado referiu!

(...)

- Senhor deputado, senhor deputado, entre 2006 e 2009 o valor de dividendos e lucros de investimentos directos feitos por estrangeiros em Portugal, transferidos para o estrangeiro, contabilizaram 10.318,1 milhões de euros. Durante esse período a Dívida Bruta Externa Portuguesa aumentou 48.663 milhões de euros e a Dívida Líquida Externa cresceu 38.855,6 milhões de euros!

(...)

- Os senhores deputados não sabem interpretar os índices estruturais, caso contrário verificariam que a taxa de emprego global é superior à da Espanha, uma das mais elevadas médias da UE27, com 65,9%, e da Zona Euro, com 67,3%. Apesar da crise internacional, a taxa de emprego em Portugal aumentou 0,4 pontos percentuais em 2008, relativamente a 2007, com uma variação de 0,3% na zona Euro e 0,5% na UE27. Saliente-se ainda o facto de Portugal ter já ultrapassado as metas definidas para 2010 para a taxa de emprego feminino, com 62,5%, sendo a meta da União Europeia de 60%, e para a taxa de emprego dos mais idosos, com 50,8%, quando a meta da União Europeia é de 50%!

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- O senhor deputado só pode estar a brincar! Omite convenientemente todos os principais indicadores económicos, como os Balanços Correntes e de Capital, o Défice das Administrações Públicas em Percentagem do PIB e a Taxa de Inflação, claro. O senhor deputado sabe, por exemplo, que, este ano, as taxas de variação homóloga dos índices de emprego e de horas trabalhadas ajustadas dos efeitos de calendário, situaram-se ambas em menos 0,1%, uma taxa superior em 1,6 pontos percentuais à observada em Outubro, enquanto a do índice de remunerações foi de menos 0,3%?


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- As variações homólogas negativas só por si não explicam nada, senhor deputado, essa é uma postura falaciosa e a sua uma retórica enganosa!

(...)

E depois foram todos almoçar.

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